“[No Espaço] Há um elemento de exploração, de fascinação, mas penso que se não formos um poder espacial, não podemos ser um poder mundial”, disse Josef Aschbacher em entrevista à Lusa após uma palestra na embaixada de Portugal em França no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE).
Até 2040 o Espaço vai valer um bilião de euros, segundo uma estimativa da Morgan Stanley, uma oportunidade que Josef Aschbacher não quer que a Europa perca.
O austríaco assumiu funções à frente da Agência Espacial Europeia (European Space Agency, ESA) em março de 2021, durante a presidência portuguesa da UE.
“Portugal é um país muito bem-sucedido no Espaço já que sabe utilizar os dados e as infraestruturas espaciais para beneficiar os seus cidadãos, tanto na observação da Terra, nas comunicações, na navegação”, indicou, reforçando que há muitas empresas portuguesas que usam o espaço “nas suas atividades quotidianas”.
Com o projeto de uma constelação de satélites sobre o Atlântico para monitorizar o oceano e a construção de uma base espacial nos Açores de onde partirão foguetões que vão colocar na órbita da Terra pequenos satélites, o diretor da ESA sublinhou que Portugal “é um país muito ativo no espaço e muito dinâmico”, com um ministro, Manuel Heitor, “muito apaixonado” por esta temática.
Quanto às prioridades da presidência portuguesa do Conselho da UE, Josef Aschbacher diz que também a recuperação económica europeia passa pelo Espaço, apesar do atraso em relação a outros países e gigantes tecnológicos, como Elon Musk, dono da Tesla, ou Jeff Bezos, dono da Amazon.
“O que me preocupa é que a Europa não está nesta corrida. A Europa, de forma coletiva, tem de se posicionar no espaço e utilizá-lo de forma a melhorar a sua economia, especialmente depois da covid-19”, explicou.
Com cerca de um sexto do orçamento da NASA, a ESA vai juntar ao seu orçamento trianual de cerca de 15 mil milhões de euros, 14,8 mil milhões de euros do orçamento da União Europeia para 2021-2027, e o retorno pode fazer-se de forma quase imediata.
“Utilizar a riqueza do espaço faz-se de uma forma muito imediata, com mercados como comunicações ou navegação a crescerem cerca de 10% por ano. Depois há investimentos a longo prazo, como a construção de satélites”, enumerou.
Também a nível ambiental, a agenda apresentada por Josef Aschbacher está alinhada com os objetivos da diminuição das emissões de carbono, com o austríaco a propor uma diminuição de 46,2% das emissões das indústrias espaciais até 2030.
Fica ainda o aspeto de fascinação da exploração espacial que Aschbacher pretende reavivar na Europa através da abertura de um programa de astronautas inclusivo e não reservado para “uma elite”.
“O Espaço não é só para pilotos de caças ou só para homens, mas para a toda a gente, especialmente para mulheres. E para todo o tipo de pessoas, mesmo pessoas com deficiências físicas. Não é para uma elite, é para todos”, declarou, reforçando a sua ambição de ter um europeu na Lua até 2030.
Todos os candidatos a astronauta que reúnam os critérios podem inscrever-se até 18 de junho no site da ESA.
Em 2022, a ESA vai organizar uma Cimeira do Espaço onde a organização espera delinear objetivos e criar “um impulso de novas iniciativas” para que tanto as intuições como os Estados-membros cheguem a acordo para tornar a Europa “mais competitiva” neste setor.